Cobogó Mundaú muda vidas por meio de artesanato e design

Um projeto de sustentabilidade ambiental e social usando como ferramentas o design e o artesanato. Conchas de sururu se transformam em cobogó, valorizando as características culturais e melhorando a qualidade de vida de membros de uma comunidade carente em Maceió (AL). O produto, desenvolvido pelos designers Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrosio e pelo artesão Itamácio dos Santos, foi lançado na Expo Revestir 2020 e será distribuído nacionalmente pela Pointer, mais moderna e sustentável fábrica de revestimentos cerâmicos do Brasil.

O nome? Cobogó Mundaú. Para quem não sabe o que é cobogó, se trata de um elemento vazado, utilizado como divisória decorativa na arquitetura brasileira. Além de construir espaços modernos e elegantes, a peça é uma ótima opção para melhorar a ventilação e a iluminação dos ambientes. 

Conchas de sururu poluem as comunidades de Vergel do Lago (AL)

O projeto surgiu da necessidade de elaborar uma solução criativa e sustentável para um problema sanitário das comunidades de Vergel do Lago. A pesca de sururu é uma das atividades mais tradicionais e importantes da economia local. A extração desse molusco, considerado patrimônio cultural imaterial de Alagoas, gera resíduos. Só nas margens da Lagoa do Mundaú, na zona metropolitana de Maceió, as sobras somam mais de 300 toneladas de cascas por mês. 

Sem utilidade definida, as conchas descartadas são recolhidas e levadas ao aterro sanitário. Muitas vezes a coleta demora e as conchas se tornam foco de doenças e mal cheiro. Porém, com um novo olhar, esse “lixo” pode se tornar matéria-prima para novos produtos. A concha é composta de calcário, material nobre para o design.

 

Sustentabilidade ambiental e social

Rodrigo Ambrosio, Itamácio dos Santos e Marcelo Rosenbaum em ação

Para contribuir com o meio ambiente e criar oportunidades sociais, o Instituto A Gente Transforma, criado por Rosenbaum, foi convidado pelo projeto Maceió Mais Inclusiva Através da Economia Circular para trabalhar em uma solução viável para o reaproveitamento dos resíduos da pesca do sururu. O designer alagoano Rodrigo Ambrosio também se juntou à empreitada. 

O ponto de partida para a criação do cobogó surgiu de uma ideia de Itamácio dos Santos, que decidiu trocar a areia por concha de sururu triturada na composição da massa. Líder do projeto, o artesão de 42 anos trabalha desde os 18 com modelagem de peças tridimensionais. Assim nasceu o Cobogó Mundaú. O trabalho desenvolvido com as comunidades de Vergel do Lago mostra que é possível produzir um produto sustentável e com design moderno a partir de resíduos.

 

Processo criativo

Cobogó Sururu do Mundaú nas mãos do artesão Itamácio dos Santos

O processo criativo utilizou uma metodologia desenvolvida pelo Instituto A Gente Transforma, conhecida como Design Essencial. Essa proposta incentiva comunidades a valorizar a própria cultura, pensando em produtos que exaltem aspectos culturais locais e tenham grande potencial de vendas.

Para criar uma peça inovadora e realmente atrativa, o Cobogó Mundaú foi desenhado por Rosenbaum e Ambrosio a partir de um processo de imersão. Produzido em Vergel do Lago, o produto tem em sua essência uma identidade alagoana. 

“Trouxemos a concha de sururu, que é um resíduo deixado pelos marisqueiros que catam o molusco na lagoa, e chegamos com a ideia de trazer novos elementos. Surgiu a ideia do cobogó, com a forma do sururu, e tudo parece que se encontrou. Essa energia toda se convergiu”, explica Ambrosio.

 

Nova fonte de renda

Apresentação do Cobogó Mundaú na Expo Revestir


Além da preservação ambiental através de uma solução sustentável, o Cobogó Mundaú representa uma nova opção de renda para a comunidade. Já no primeiro lote produzido, cinco moradores foram empregados. A ação promove uma melhora na qualidade de vida de membros da população em situação de extrema pobreza, que deve ser ampliada com o aumento de demanda do produto. 

Outro benefício é impulsionar o desenvolvimento da economia circular, na qual os resíduos produzidos por uma atividade são reaproveitados como matéria-prima por outros segmentos. “É gratificante porque eu estou passando o conhecimento que eu já tinha para as pessoas, que estão dando valor àquele material que era jogado fora. Estamos pegando isso e transformando em algo novo”, comenta Itamácio dos Santos.

O Cobogó Mundaú é, portanto, um produto com design criativo a serviço do desenvolvimento sustentável ambiental e social. “O projeto une meio ambiente e o mercado do design, nos levando a entender de que forma o setor tem o potencial de transformação social, de vidas e de comunidades. Quando o consumidor comprar um desses cobogós, ele estará fazendo parte de toda essa cadeia. Comprem e coloquem em suas casas, porque, além de adquirir um produto bonito, você estará transformando várias vidas”, destaca Rosenbaum.

 

Liderança em sustentabilidade

Pointer fará a distribuição nacional do Cobogó Mundaú


Marca de design democrático com o DNA do Grupo Portobello, a Pointer apresentou o Cobogó Mundaú na 18ª Expo Revestir, realizada em São Paulo em março. Engajada no projeto, a fábrica distribuirá o produto pelo país ao longo de 2020, utilizando como ponto de venda a rede de lojas Portobello Shop, com 140 unidades.

Aliás, a proposta se encaixa perfeitamente com a identidade da Pointer. Criada em 2015, a fábrica em Marechal Deodoro (AL) é a mais moderna e sustentável do setor no Brasil. Entre as iniciativas de sustentabilidade estão o uso de gás natural, reutilização do calor do forno, captação de energia solar, reaproveitamento da água industrial e emissão de vapor sem fumaça poluente. Isso tudo, é claro, soma-se ao próprio conceito de sustentabilidade da cerâmica, que substitui pedras naturais, poupa árvores, reduz o consumo de derivados do petróleo e é reciclável.

Os revestimentos cerâmicos da Pointer são desenvolvidos em fabricação via seca, o que reduz o consumo de energia e, consequentemente, propicia menor impacto ambiental.

 

Rede de colaboração

Ação faz parte do projeto Maceió Inclusiva Através da Economia Circular
O projeto Maceió Mais Inclusiva Através da Economia Circular é uma cooperação entre a Prefeitura de Maceió, o Laboratório de Inovação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID Lab) e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS). Laboratório de inovação, o BID Lab tem o objetivo de mobilizar capital, conexões e conhecimento para promover inovação e inclusão na América Latina e Caribe. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), por sua vez, contribui para o bem-estar social, o desenvolvimento sustentável e a redução das desigualdades.

O Instituto A Gente Transforma atua em comunidades brasileiras que estão à margem da sociedade, promovendo ações que revivem conhecimentos ancestrais e valorizam a cultura local, gerando benefícios concretos para as pessoas. Criador do instituto, Marcelo Rosenbaum está à frente da Rosenbaum Arquitetura e Design há mais de 20 anos. Já Rodrigo Ambrosio é arquiteto, urbanista, designer e autor do livro “Alagoas Feita à Mão”. 

“O projeto Maceió Inclusiva atua em várias frentes para a qualificação da cadeia produtiva do sururu e a melhoria da qualidade de vida da comunidade que sobrevive da pesca do marisco. Ter mais essa conquista, com o lançamento do Cobogó Mundaú, é sinal que as ações do projeto estão no caminho”, afirma o gestor da Secretaria Municipal de Turismo, Esporte e Lazer (Semtel) de Maceió, Jair Galvão.