Sabendo que a arquitetura e o design são parte intrínseca do desenvolvimento da humanidade e de sua sustentabilidade, o Projeto Sururu nasceu para estimular a economia e ajudar na preservação ambiental.
A solução encontrada para obter esses resultados foi usar cascas de molusco para a produção de revestimentos sustentáveis.
O mais bacana é que o trabalho trouxe prêmios e valorizou o trabalho das comunidades locais. Também transformou parte da economia local com o desenvolvimento de produtos inteligentes, sustentáveis e funcionais.
Conheça um pouco mais sobre o Projeto Sururu a seguir.
O que é o Projeto Sururu?
Lagoa Mundaú, localizada no bairro de Vergel, em Maceió, é fundamental para a sobrevivência de diversas comunidades da região (Foto: A Gente Transforma)
O Projeto Sururu é uma iniciativa alagoana de sustentabilidade baseada em economia circular.
Ele tem transformado a realidade da orla da lagoa Mundaú ao construir cobogós utilizando conchas de sururu, espécie de molusco considerado patrimônio imaterial do Alagoas desde 2014.
A comunidade do bairro do Vergel, em Maceió, sofre com baixa renda e a alta vulnerabilidade social. A orla da lagoa de Mundaú é ocupada por cinco favelas cuja população vive abaixo da linha de pobreza.
Contudo, essas pessoas conseguem se manter graças ao cultivo, extração e separação das conchas do sururu. Além da parte econômica, o molusco é base de um caldo delicioso, saudável e extremamente nutritivo.
No geral, homens são responsáveis pela pesca no fundo da lagoa, enquanto as mulheres ficam às margens recebendo os moluscos para a “despinicagem” (separação do sururu do cordão que o liga à casca).
O problema é que essa pesca gera cerca de 300 toneladas de cascas mensais, que são jogadas às margens da lagoa até a prefeitura levá-las a aterros sanitários ou lixões.
Quando não descartadas corretamente, essas conchas acabam poluindo água, terra e até causando problemas de saúde na comunidade local.
Nesse contexto, surge o Projeto Sururu, cujo primeiro produto criado foi o Cobogó Mundaú.
Cobogó Mundaú
O Cobogó Mundaú é produzido com as conchas trituradas de sururu (Foto: A Gente Transforma)
Numa parceria entre o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), o Grupo Portobello, o Instituto A Gente Trasnforma, o projeto Maceió Mais Inclusiva (extinto em 2021), BID LAB (Laboratório de Inovação do Grupo BID), a Prefeitura de Maceió e outas iniciativas parceiras, nasce o Projeto Sururu.
Sua principal ação é transformar o resíduo em matéria-prima para novos produtos. Aqui os objetivos são proporcionar uma nova fonte de renda, diminuir a desigualdade e promover o desenvolvimento social das comunidades locais
O primeiro passo do Projeto Sururu foi triturar a casca do molusco e transformá-la em blocos ecológicos. Eles utilizam o mínimo possível de cimento em sua composição e são produzidos no canteiro de obras.
A intenção é substituir os tijolos comuns, que são feitos com recursos finitos da natureza e combustível fóssil em sua queima.
Um dos primeiros produtos do projeto é o Cobogó Mundaú. A peça é uma parceria entre a Portobello, marca do Grupo Portobello, com os designers Marcelo Rosenbaum (que lidera o Instituto A Gente Transforma), Adriana Benguela, Rodrigo Ambrósio e o artesão local Itamácio Alexandre.
O Mundaú usa as cascas trituradas do sururu como matéria-prima.
O que são cobogós?
Itamácio Alexandre segura um Cobogó Mundaú produzido pelo Projeto Sururu (Foto: divulgação Portobello)
Cobogós são elementos vazados muito utilizados em construções de paredes e muros do Nordeste. Além do fator estético, ele auxilia na circulação de ar e na iluminação natural do ambiente.
Seu nome é uma sigla formada pelas sílabas dos sobrenomes dos seus criadores: o português Amadeu Oliveira Coimbra, o alemão Ernest August Boeckmann e o brasileiro Antônio de Góis.
Apesar de ter sido criado na década de 1920, ele se popularizou nos anos 1950, quando foi difundido por Lúcio Costa.
O cobogó nasceu no Recife, mas tem inspiração nos painéis de madeira árabes, que integram e, ao mesmo tempo, dividem ambientes.
Desenvolvimento
Para que o Mundaú pudesse sair do papel, os designers contaram com o trabalho do artesão local Itamácio Alexandre. Ele é conhecido na região pela produção de caqueiras, nome local dado a um tipo de vaso de cimento).
A técnica empregada nessa confecção serviu de base para o cobogó. A única mudança é a substituição da areia usada na caqueira pelas cascas trituradas do sururu.
Tanto a areia quanto a casca do sururu são matérias-primas com propriedades calcárias compatíveis à produção de cimento.
Atualmente, o produto é produzido pela Instituto A Gente Transforma, com apoio do departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
A comercialização é feita pela Portobello. Já as comunidades da orla da lagoa de Mundaú são apoiadas pela Pointer.
Prêmios
Beleza, funcionalidade e sustentabilidade do Cobogó Mundaú trouxeram prêmios para o Projeto Sururu (Foto: Portobello)
O mais interessante é que o cobogó Mundaú é realmente sustentável. Além de contribuir para a retirada de cerca de 150 toneladas de conchas, ele une beleza e funcionalidade em um produto. Dessa forma, contribui para a economia circular.
Para se ter uma ideia, o Mundaú ganhou a categoria Produto do prêmio internacional iF Design Award 2022, considerado o Oscar do design mundial.
Também foi finalista do 2020 Human City Design Awards, que reconhece iniciativas que utilizam o design democrático como solução criativa para problemas sociais complexos. No Brasil, o cobogó ganhou o prêmio Casa Vogue Design 2021 na categoria Revestimentos.
Comunidade e Projeto trabalhando juntos
Outro fator essencial é a intrínseca participação da comunidade no desenvolvimento do produto. O projeto foi mediado pela ONG Mandaver, que intermediou a relação entre os designers e Itamácio.
Além de retirar toneladas de cascas no meio ambiente, o projeto empodera famílias e traz novas perspectivas para a comunidade.
Pousada ecológica
Além do cobogó Mundaú, o Projeto Sururu agora trabalha com a construção de uma pousada usando os blocos ecológicos feitos da casca do molusco. Chamada Pousada de Sururu, a construção ficará localizada em Tatuamunha.
Além do uso dos blocos de sururu, a construção será integrada à vegetação. Com isso, vai preservar 144 dos 168 coqueiros e palmeiras locais. Seus jardins internos e externos serão utilizados para separar as unidades, garantindo privacidade e preservando a natureza local.
Viu como o Projeto Sururu transformou a realidade local por meio de um projeto ecológico? Veja agora como a Pointer aplica a sustentabilidade por meio da logística reversa.
Crédito da imagem principal: A Gente Transforma