Você já deve ter notado que muitos profissionais só são reconhecidos quando não estão mais entre nós. Sua obra só é estudada anos, talvez décadas após sua morte. Vanguardistas, ousados, “loucos” ou apenas discretos, não importa — é essencial reconhecer os grandes nomes da arquitetura ainda em vida. É isso que o Prêmio Pritzker pretende fazer.
Numa visão de valorizar o coletivo para premiar o indivíduo, o Prêmio Pritzker valoriza o profissional, e não o escritório; o impacto comunitário, e não somente mercadológico. Conheça um pouco mais sobre o prêmio e o ganhador de 2025, Liu Jiakun.
O que é o Prêmio Pritzker?
Medalha do Prêmio Pritzker, concedida a todos os laureados (foto: Wikimedia Commons)
O Prêmio Pritzker é uma premiação que reconhece arquitetos vivos e com trabalhos significativos para a humanidade e o ambiente. Portanto, é um compromisso do Pritzker premiar pessoas, e não escritórios.
Criado pela família Pritzker, de Chicago (EUA) em 1979, o Prêmio concede US$ 100 mil e um medalhão de bronze ao vencedor. O prêmio ocorre em um local de importância arquitetônica em todo o mundo — em 2025, ocorre no Louvre Abu Dhabi, primeira filial do Museu do Louvre no mundo.
Mais do que uma obra específica, o prêmio visa exaltar uma obra constante e de grande relevância para a área. Frequentemente chamado de “Nobel da Arquitetura”, o Prêmio Pritzker é o reconhecimento mais importante que um arquiteto pode receber em vida.
Liu Jiakun: o vencedor do Prêmio Pritzker 2025
O arquiteto Liu Jiakun, vencedor do Prêmio Pritzker de 2025 (foto cortesia de Bi Kejian/Prêmio Pritzker de Arquitetura)
Neste ano, o grande vencedor do Prêmio Pritzker foi o arquiteto, escritor e educador chinês Liu Jiakun. Seu trabalho minimalista foca em elementos sustentáveis, como s integração do contexto local e o artesanato tradicional.
Quando jovem, Jiakun cogitou trabalhar como artista, mas se atraiu pela arquitetura graças à sua conexão com o desenho e o design. Hoje, é o terceiro arquiteto chinês a receber a Pritzker, após Ieoh Ming Pei (1983) e Wang Shu (2012).
Em 1999, Jiakun fundou a Jiakun Architects em Chengdu, sua cidade natal. De lá para cá, seu escritório foi responsável por mais de 30 projetos em toda a China.
Seu trabalho ganhou destaque nacional em 2008, após o terremoto de Wenchuan em 2008, que matou cerca de 70 mil pessoas. O arquiteto utilizou parte dos escombros, misturados com fibra de trigo e cimento locais, para produzir o que chamou de \”tijolos de renascimento\”.
Arquitetura chinesa — desenvolvimento e tradição andam juntos
Luyeyuan Stone Sculpture Art Museum, obra de Liu Jiakun (foto: Bi Kejian/Prêmio Pritzker de Arquitetura)
Nos últimos meses, a China aparece nos noticiários com muito mais evidência. Seja pelas taxas impostas pelo governo Trump ao país, seja por seu crescimento industrial acima da média em meio a uma potencial crise econômica mundial, os números apontam para uma qualidade milenar no país: a capacidade de se reerguer em meio a adversidades.
A China sempre utilizou de sua história para crescer. Embora tenha passado anos relegando o trabalho manual em detrimento da indústria, atualmente o governo estimula o artesanato para a diminuição da desigualdade em certas regiões. O talento com artes manuais dos chineses também fizeram do país o grande produtor de luxo do mundo.
O trabalho de Liu Jiakun tem todas essas características do trabalho chinês. Valorização do artesanato e uso de materiais locais ajudam a desenvolver a região na qual cada construção se desenvolve.
O minimalismo e o design sustentável resgata esse luxo que, muitas vezes, não é reconhecido, mas que um olhar treinado consegue perceber e sentir. Seu trabalho, aliás, vai de encontro à própria arquitetura contemporânea chinesa, mais pomposa e voltada à ostentação. Liu Jiakun é um homem que se reflete em seu próprio trabalho: discreto e aparentemente modesto, mas com um impacto significativo em toda a China.
Essa preocupação com o impacto ambiental e a ligação com sua terra natal, aliás, são visões crescentes em 2025 — segundo a Organização Mundial de Saúde, a poluição atmosférica é responsável pela morte de 2 milhões de pessoas anualmente na China.
Principais obras de Liu Jiakun
West Village, em Changdu (foto: Arch-Exist/Prêmio Pritzker de Arquitetura)
Mais do que prédios comerciais, Liu Jiakun criou obras importantes para a população chinesa. Conheça algumas:
- Luyeyuan Stone Sculpture Art Museum, em Changdu (2002);
- West Village, Changdu (2015);
- Novartis Shanghai Campus — Bloco C6 (2016);
- Suzhou Imperial Kiln Ruins Park & Museum of Imperial Kiln Brick (2017).
Como visto, o Prêmio Pritzker valoriza um trabalho consistente e impactante na arquitetura mundial.
E para aprender um pouco mais sobre a história do segmento, entenda um pouco mais sobre a Decoração Modernista Brasileira.
[Capa: foto cortesia da Fundação Hyatt/Prêmio Pritzker de Arquitetura]